No país vizinho de Espanha na década de 30 do século XX, produziu-se uma violentíssima e cruenta perseguição religiosa: 13 bispos, 4184 sacerdotes, 2365 frades e monjes, 283 irmãs, e milhares de leigos foram assassinados "in odium fidei", a esmagadora maioria no decorrer da Guerra Civil Espanhola. A tragédia, apesar de toda a dor, constítui uma das páginas mais gloriosas da Santa Igreja Católica com o martírio de uma multidão de santos e santas que por amor a Deus e à sua Igreja deram a suas vidas, e dos quais sou afinal, irmão na Fé pela graça do Baptismo. Este espaço é a todos eles e elas dedicado! Que a intercessão destes santos e beatos junto de Nosso Senhor Jesus Cristo me ajude a ser um cristão coerente e verdadeiro neste nosso século XXI!

Não é minha pretensão com este blog julgar os assassinos ou seus herdeiros ideológicos. Ao Senhor pertence o julgamento. Eu, que apenas ambiciono ser um simples seguidor de Cristo na sua Igreja, cabe-me perdoar, tal como o fizeram aos seus carrascos estes mártires espanhois que aqui vão ser apresentados. Faço minhas as palavras do cardeal vietnamita Nguyen Van Thuân - que passou 12 anos em prisões comunistas - quando dizia "não me sentiria cristão se não perdoasse".

Nesta nossa sociedade de 2012, de indiferentismo religioso, hiper-consumista, hedonista e abandono de valores cristãos, foi Graças à "descoberta" das histórias individuais de todos estes mártires, à sua imolação, ao seu holocausto; que dei por mim num caminho de conversão. Re-encontrei-me com Jesus Cristo e com a Santa Igreja Católica.

"Por causa do Meu nome, sereis odiados em todas as nações" (Mc 13,13).

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Frei Manuel da Sagrada Família – monge Jerónimo - Beato



Beatificado no passado dia 13 de outubro de 2013 em Tarragona (Espanha), Frei Manuel da Sagrada Família foi um homem providencial. Cristão de fé adulta, foi em 1925 o restaurador do ramo masculino da Ordem dos Jerónimos, comunidade religiosa contemplativa. Uma ordem monástica com uma enorme tradição eclesial em Espanha e Portugal. (Quem não conhece o belíssimo “mosteiro dos Jerónimos” em Lisboa? – antiga casa-mãe da Ordem dos Jerónimos em Portugal).


Manuel Sanz Domínguez nasceu em Sotodosos (Guadalajara) em 1887. Seu primeiro emprego foi na Companhia de Caminhos de Ferro Espanhola.

Dali, passou à Banca, e começou a trabalhar na London Country Westmister and Parr’s Foreign Bank na famosa Gran Vía em Madrid. Sua notoriedade na banca rapidamente se fez notar e depressa foi contratado pelo mais influente Banco Rural.

Testemunhos de conhecidos e amigos recordam esses tempos de empregado dos Caminhos de Ferro, quando ainda não tinha feito os 25 anos, onde falava da Boa Nova de Jesus Cristo aos colegas. Socialistas, anarquistas e comunistas procuravam escarnecer dele. Tarefa inútil, pois Manuel Sanz nunca se deixou abater perante as críticas, as incompreensões, os insultos. A Adoração Noturna, os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, os vários retiros espirituais, e a sua própria acção evangelizadora  acabaram por o levar a sentir o apelo do Senhor.  Pensou tornar-se jesuíta, mas a saúde do seu pai, e o facto de que suas irmãs dependiam economicamente dele, obrigaram Manuel a atrasar sua decisão. No entanto, nunca se tornaria jesuíta. O Senhor tinha para ele, um outro plano.

Em 1920, cumpria-se o décimo quinto centenário da morte de São Jerónimo. Com excepção dos nossos dias, este tipo de datas sempre foram celebradas com solenidade e publicidade. E no início dos anos 20, entre os católicos de Espanha surgiram uma série de publicações sobre o santo. Coincidindo com este acontecimento, Manuel Sanz entrou em contacto com os escritos de São jerónimo através de um companheiro da Adoração Nocturna que tinha tentado, sem êxito, restaurar a Ordem Jerónima.

Durante o tempo de doença do seu pai, Manuel introduziu-se na espiritualidade jerónima, e na gloriosa história da Ordem, condenada à morte prematura pelas legislações anti-clericais do século XIX em Portugal e Espanha. No entanto, seu pai veio a falecer e suas irmãs, encontraram a independência económica. Manuel estava agora com as condições para dar resposta ao projecto que o Senhor lhe propunha: não seria sacerdote jesuíta, mas sim monge jerónimo.

- “Mas a Ordem Jerónima não existe!”, lhe dizia seu director espiritual quando Manuel lhe confiou os seus planos.

- “Pois bem, a restaurarei!”

~E restaurou-a mesmo. Com outros cinco corajosos vocacionados, e contando com o apoio incondicional das monjas, que do Mosteiro Jerónimo de la Concepción de Madrid, que levavam décadas a pedir ao Senhor o regresso  dos seus irmãos frades. Renunciou a uma brilhante carreira profissional, a um futuro de bem instalado na vida, ao êxito financeiro, e, se empenhou numa tarefa aparentemente insensata: recuperar uma ordem monástica no seu ramo masculino, que já tinha existido na Península Ibérica, mas que fora extinta pela força das leis anti-Igreja, em 1834 em Portugal, e em 1835 em Espanha.

 
Mosteiro dos Monges Jerónimos de Santa Maria del Parral

Com o apoio do Papa Pio XI, os novos monges Jerónimos começaram a sua vida monástica  regular num dos seus antigos mosteiros da Ordem, Santa Maria del Parral, em 1925. Neste mosteiro, recebeu a ordenação sacerdotal, e fez profissão dos seus votos, temporais primeiro, depois perpétuos.

 

O MARTÍRIO

A Ordem Jerónima recuperou a sua vitalidade, mas o seu destino parecia estar cheio de provas extremamente duras. Em 1931, com a proclamação da República, o Governo e os partidos foram criando uma corrente crescente de opinião pública contra a Igreja e seus membros, que se converteria na grande enxurrada de sangue de mártires ocorrida em 1936. Sabendo que era perseguido pelas forças do novo regime republicano, Fray Manuel de la Sagrada Família, proclamou:

Aconteça o que acontecer, dou graças a Deus, porque me concedeu um destino grande e belo. Se viverei, creio que verei restaurada a Ordem Jerónima, objecto de todos os meus sonhos. Se morrer, serei mártir por Cristo, que é bem mais do que alguma vez sonhei!”.

Poucos dias depois de ter pronunciado estas palavras, membros dos partidos políticos de esquerdas, com o aval do Governo da República, detiveram Frei Manuel de la Sagrada Família. Detiveram-no durante 2 anos preso, doente. Acabou por ser transferido para a Prisão-Modelo de Madrid, (Cárcel Modelo), acompanhado por outros religiosos, sacerdotes e leigos católicos.

Antiga prisão madrilena "Cárcel-Modelo" onde Frey Manuel esteve preso


Foi executado pelos comunistas por fuzilamento em Paracuellos de Jarama, a 6 de novembro de 1936.

Cemitério dos Mártires em Paracuellos de Jarama, esse verdadeiro relicário de mártires da Santa Igreja Católica. Aqui a terra está inundada de sangue de mártires cristãos.


Paracuellos de Jarama, esse local onde jazem o maior número de mártires cristãos da História da Igreja, foi a tumba do restaurador da Ordem dos Jerónimos, que passou os últimos dias na Prisão-Modelo a evangelizar, e reconfortar e a atender espiritualmente os presos, vítimas do ateísmo e ódio à religião católica.
Cemitério dos Mártires em Paracuellos de Jarama, esse verdadeiro relicário de mártires da Santa Igreja Católica. Aqui a terra está inundada de sangue de mártires cristãos. Local onde todos os cristãos deveriam ir em peregrinação uma vez na vida!
Simulação dos fuzilamentos efetuados pelos comunistas em 1936 em Paracuellos de Jarama.
 
 
Lembranças do Beato Frei Manuel de la Sagrada Família no mosteiro de Santa Maria del Parral.
 

Infelizmente, apesar de a Igreja  ter celebrado muito recentemente a sua Beatificação, o momento não é muito feliz para a Ordem dos monges Jerónimos. Após a restauração em 1925 no Mosteiro de Santa Maria del Parral (Segóvia – Espanha) a Ordem já teve as seguintes comunidades monásticas masculinas: Mosteiro de San Isidro del Campo (1956); Mosteiro de Yuste (1958) e Mosteiro da Jávea (1964). No entanto, hoje (outubro de 2013) a Ordem Jerónima, no seu ramo masculino está reduzida apenas à um único mosteiro activo: Santa Maria del Parral.
Mosteiro de Yuste (Cáceres): até à poucos anos ocupado pelos monges Jerónimos.
 
 
Que tempos são estes? Onde os jovens católicos já não respondem generosamente ao apelo do Senhor, unindo-se a este ideal de vida cristã, no silêncio e oração? Os poucos monges jerónimos são homens humildes, afáveis, serenos,  com um grande coração e uma profunda Fé em Deus. É surpreendente que a sua vida de recolhimento, de silêncio, não os transforma em pessoas antipáticas ou pouco sociáveis. Pelo contrário, servir a Deus, com todo o seu coração, com toda a sua mente, e todo o seu corpo, multiplica o seu grande amor por todas as almas.  São verdadeiramente cristãos muito felizes!
Dois monges Jerónimos na actualidade, de Santa Maria del Parral.

Roguemos ao Beato Frei Manuel de la Sagrada Família, que interceda junto de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que envie jovens cristãos do século XXI, à secular Ordem dos Jerónimos de forma a que esta continue a contribuir com a sua incessante oração, para o bem de toda a Santa Igreja.